Bacafá

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terça-feira, 26 de junho de 2018

Compliance digital e segurança na internet

Tem-se falado e escrito muito ultimamente sobre compliance digital, segurança na internet, preocupações com acessos indevidos ou vazamento de dados. Notícias quase cotidianas dando conta problemas dessa natureza e a entrada em vigor no último dia 25 de maio do GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia) contribuem para o aumento dessas discussões.
A preocupação não é para menos. Segundo estudo da Ponemon Institute/IBM (2017 Cost of Data Breach Study), as causas de violação de dados foram divididas em três grandes grupos: ataques maliciosos ou criminosos; falhas no sistema e erros humanos. O mais impressionante é a participação de cada grupo: 44%, 31% e 25% respectivamente. Ou seja, mais da metade do problema é de dentro e não de fora, como era de se esperar. Deve ser considerado ainda que, neste estudo, hackers ou criminosos internos (empregados, contratados ou terceiros) são considerados igualmente como responsáveis ​​por ataques maliciosos ou criminosos.
Ou seja, o problema interno pode ser, conforme o caso, percentualmente ainda maior. Nesse prisma verifica-se que o incidente de vazamento pode decorrer de um colaborador desatento ou de um colaborador mal intencionado.
Outros dados interessantes da pesquisa (p. 12):
“Brazilian companies that had a data breach involving less than 10,000 records averaged a cost of R$ 2.02 million. Data breaches involving 50,000 or more records had an average per capita cost of R$ 6.73 million.”
São, realmente, valores que não podem ser desprezados. Sem contar o quanto a imagem da empresa pode ficar arranhada perante seus clientes, fornecedores e concorrentes.

Programas de compliance.

Compliance (ou programa de integridade) nas empresas é, possivelmente, o melhor caminho para diminuir os riscos de danos (financeiros diretos e à imagem). Programas de integridade realizados por profissionais preparados e que consigam não apenas entender, mas, principalmente, fazer o elo entre a legislação vigente e os meandros tecnológicos e de TI, além de compreender o negócio do cliente, tornaram-se indispensáveis.
O VP da SRI Internacional, Robert Pearlstein, em entrevista ao Portal Consumidor Moderno (https://bit.ly/2M1GpNi), disse que
“O grande desafio da internet no momento é a questão segurança, que deve ser pensada em larga escala. Todos devem ter essa preocupação e não apenas governos ou empresas. O que temos hoje é o que americanos chamam de velho oeste selvagem, uma espécie de terra sem lei. Independentemente do tipo de internet que apareça no futuro, penso que o ponto de partida é pensar na segurança. A segurança será a inovação em uma nova rede mundial.”
Os programas de compliance na área digital poderão mitigar os perigos comentados por Robert Pearlstein, ainda que oriundos da equipe interna (seja por negligência, seja intencional, como visto acima).

Preparação multidisciplinar.

A preocupação, porém, não deve ser apenas com a equipe de TI das empresas. Com a evolução da tecnologia e das relações trabalhistas, todo o corpo de colaboradores deve estar integrado e sintonizado com o programa de integridade. Todos devem saber o que podem e o que não podem fazer. É a única maneira de diminuir as chances de uma invasão, sequestro ou vazamento de dados sensíveis das empresas.
O relatório Ponemon/IBM também trata desta complexidade:
“Disruptive technologies, access to cloud-based applications and data as well as the use of mobile devices (including BYOD and mobile apps) increase the complexity of dealing with IT security risks and data breaches.”
Como a própria filosofia de compliance ensina, a educação deve se dar em todos os escalões e setores da empresa.

Evitando prejuízos.

Assim, associados aos prejuízos inerentes ao vazamento de dados, per si, a nova legislação europeia sobre o tema e o projeto de lei de proteção de dados em tramitação de dados no Congresso Nacional demandam a atenção das empresas nesse sentido.
Criar e estimular a cultura de integridade traz benefícios a curto, médio e longo prazos, indiscutivelmente. As empresas devem estar preparadas para a transformação digital, afinal. Clicando aqui, você pode entender melhor.
De fato, não dá mais para as empresas deixarem essa preocupação em segundo plano, independentemente de seu tamanho.

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quinta-feira, 10 de maio de 2018

As deep fake news e sua empresa

Você tem certeza sobre a veracidade de tudo o que lê a respeito de uma pessoa ou empresa? Pois é!

As fake news se tornaram uma epidemia. Pessoas, famosas ou não, são alvos de notícias falsas com os mais diversos objetivos. Desde o mais mesquinho, de simplesmente atacar a honra de uma pessoa por ciúmes ou inveja (que pode gerar de um pequeno mal-estar familiar a um linchamento); até os mais elaborados, utilizados como forma de acessar dados ou informações sensíveis ou inocular um vírus no equipamento da incauta vítima.

Em épocas de eleições essa realidade destaca mais dramaticidade e periculosidade, pois com as visíveis polarizações políticas tupiniquins e mundiais muita gente quer ter uma opinião formada sobre tudo e sobre todos. Com perfis falsos ou pagos (sem qualquer ideologia lógica que fomente o debate), muito estrago pode ser feito. Tem-se visto notícias constantes sobre o assunto, em especial por ser, esse, um ano de eleições presidenciais atípicas no Brasil, dados os últimos episódios registrados. Ver-se-á muitas reputações políticas destruídas e lobos em pele de cordeiro nos próximos meses.

O problema, porém, como dito, não se limita às questões eleitorais ou político-partidárias. Atinge todos: pessoas físicas e jurídicas.

E essa questão se torna ainda mais importante quando a tecnologia já permite um passo além das tradicionais fake news: as deep fake news. As notícias falsas não virão mais apenas escritas. Vídeos e áudios farão muita gente ter a convicção (plena) de que aquela imagem ou aquela voz são mesmo das pessoas retratadas (famosas ou não). Ou mesmo de uma marca ou de um produto. Mas não serão!

A nova fase das notícias falsas assusta - e não é para menos! O que antes era privilégio ou monopólio dos gigantes estúdios de cinema ou das grandes produtoras de publicidade comercial, com o avanço e barateamento da tecnologia, manipular imagens, vídeos e áudios (com objetivos nada louváveis), passou a ser alcançável por quase qualquer pessoa.

As já cunhadas deep fake news (ou falsas notícias profundas, em tradução livre), ou simplesmente deep fake (falsificação profunda), criarão comprometimentos de imagem e honra patamares acima do que se viu até agora. A diferenciação entre realidade e manipulação digital, com sintetização de rostos e vozes, ficará cada vez mais difícil, especialmente para os leigos. Tudo pode ficar pior se for considerada a possibilidade de exércitos de bots atuando nessa linha contra determinadas pessoas, físicas ou jurídicas. Conforme é notícia no mundo inteiro, isso aparentemente aconteceu nas últimas eleições presidenciais norte-americanas.

As grandes plataformas e redes sociais estão desenvolvendo algorítimos para identificar notícias falsas, e têm obtido considerável êxito, embora não o suficiente para dizimá-las. Universidades também tratam do assunto, dada sua complexidade e importância. Um estudo do professor Deb Roy e sua equipe, do MIT, identificou, por exemplo, que, no Twitter, notícias falsas trafegam mais rápido do que notícias verdadeiras. Mais do que isso: descobriu que pessoas, de início, disseminam mais informações falsas do que bots. Mais dessa pesquisa pode ser lido no MIT News: https://bit.ly/2toeBNS.

Mas, afinal, por que as pessoas fazem isso? Os pesquisadores de mídia, política e tecnologia Claire Wardle e Hossein Derakhshan trazem uma luz sobre o tema (artigo no Jornal The Guardian - How did the news go ‘fake’? When the media went social - https://bit.ly/2zJz3bb):

When we try to understand why people are sharing misleading, manipulated and fabricated information, we need to appreciate that those shares and retweets are playing an incredibly important function, which is less about their veracity or truth. The act of sharing is often about signalling to others that we agree with the sentiment of the message, or that even if we don’t agree, we recognise it as important and worth paying attention to. We want to feel connected to others, and these mini-performances allow us to do that.

Em resumo: pura necessidade de se sentirem incluídos...

O frisson das deep fakes ainda são os vídeos pornográficos, especialmente com celebridades. Entretanto, todos sabem que o próximo passo é o caminho das fraudes corporativas, ou melhor, contra as corporações, grandes ou não.

E sua empresa? Está preparada ou imune às fake news?

Muitas empresas estão se organizando efetivamente contra estas notícias falsas que podem ser propagadas tanto por um consumidor insatisfeito ou que queira simplesmente chamar a atenção, quanto por concorrentes. Há diversos casos de tentativas frustradas e de sucesso de propagação de notícias falsas contra empresas relatados na doutrina, jurisprudência e, principalmente, imprensa. A Coca-Cola, por exemplo, criou em seu site uma seção específica para discutir boatos com seus clientes (https://bit.ly/2Hmt6ov). Uma ótima iniciativa para quem quer trabalhar com transparência e, ao mesmo tempo, está preparada para atender à demanda que se cria automaticamente.

O grande problema que já ultrapassou a linha da vizinhança, contudo, são as deep fakes. Como lidar com aquela imagem manipulada digitalmente e com perfeição do produto (ou marca) da sua empresa em situação que causa asco, repulsa, raiva ou qualquer outro sentimento depreciativo de seus clientes? Ou com um dirigente de alto escalão fazendo ou falando algo que não deveria nem em sonho, causando as mesmas sensações nos consumidores? Clientes, estes, que dirão com todas as letras: "Eu vi e ouvi. E é isso mesmo!".

As deep fakes podem ir além de uma imagem (muito) arranhada com os consumidores. Os professores de Direito americanos Robert Chesney e Danielle Citron, em artigo publicado na revista Lawfare (Deep Fakes: A Looming Crisis for National Security, Democracy and Privacy? - https://bit.ly/2EP4nvf), alertam:

"Blackmailers might use fake videos to extract money or confidential information from individuals who have reason to believe that disproving the videos would be hard (an abuse that will include sextortion but won’t be limited to it). Reputations could be decimated, even if the videos are ultimately exposed as fakes; salacious harms will spread rapidly, technical rebuttals and corrections not so much."

Sob outro prisma: vídeos ou áudios poderão facilmente enganar colaboradores das empresas, causando prejuízos das mais diversas montas. Ou, ainda, deixá-los como reféns morais, obrigando-os a provocar danos contra seus empregadores.

Resta evidente, então, que, para as empresas, não apenas as questões técnicas para evitar as fake news e as deep fakes, ou para contorná-las jurídica e comercialmente, são prioridade, mas, também, a preparação da equipe que lida com informações sensíveis ou sigilosas.

Os Governos devem se preocupar e endurecer a legislação sobre fake news e deep fakes. Contudo, é sabido que a a tecnologia e o comportamento humano são sempre mais rápidos do que os interesses políticos positivos. Consequentemente não dá para esperar limitações legislativas. As empresas devem se preparar para mitigar os riscos e agir rapidamente quando as situações se concretizarem.

Até porque a grande dúvida que fica é: o que virá adiante?

sexta-feira, 31 de março de 2017

Entre dois mundos

Não sei se todos os expectadores (amantes ou odiadores) do Big Brother Brasil sabem que o reality show (de formato criado pela Endemol, empresa de televisão holandesa) foi inspirado no livro 1984, de George Orwell. Nessa obra existe um Grande Irmão que tudo sabe e tudo vê. As pessoas não têm vida própria, a não ser que façam parte da patuleia excluída ou da elite restrita. Os cidadãos comuns são condicionados, inclusive e principalmente, a não ter prazer. Não quero dar um spoiler a quem ainda não conheceu a obra que, a meu modesto ver, é de leitura obrigatória.
Não sei, também, se todos os que leram 1984, leram igualmente Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. E que sempre há comparações entre estas duas obras-primas, mesmo com os 16 anos que as separam (Admirável, de 1934 e 1984, de 1948). Aqui da mesma forma há um controle geral sobre população, com classes ou castas bem definidas, e todos, privilegiados ou não, igualmente condicionados, inclusive e principalmente, para ter prazer. Não quero dar spoiler a quem ainda não leu a obra que, a meu modesto ver, é de leitura obrigatória.
Pois bem. Duas visões de um mundo distópico narradas há 70/80 anos. Confesso que de vez em quando me sinto algo entre Admirável Mundo Novo e 1984. Estamos cada vez mais cercados por um Grande Irmão, que tudo vê e tudo sabe, e, a cada dia que passa, mais observados, vigiados e sem privacidade. Estamos, ainda, cada vez mais exasperados por beleza, felicidade e perfeição, tomando injeções diárias de felicidades (alheias) através das redes sociais.
Somos o umbigo do mundo. Todos e ao mesmo tempo. Queremos ser tudo, sempre. E esquecemos dos detalhes.
Hoje não repetirei o que já falei sobre (in)segurança na internet e nem nos acessos a nossas informações, nossas contas e nossas casas pelos crackers, bandidos da modernidade, ou hackers do mal, como queiram. Nem sobre ransomware, malware, trojans e afins.
Mas é importante que lembremos que, a não ser que sejamos completamente desconectados, nossa vida está aí para quem quiser saber. RHs não olham apenas o nosso LinkedIn ou nosso currículo Lattes para conhecerem nossas competências. Hoje eles dão uma gulgada ou entram no nosso Facebook e Instagram, dentre outras redes sociais. A Receita Federal não compara apenas nossos extratos de contas bancárias para saber se o IR está corretamente declarado. O Leão, com seu focinho enorme e seus computadores maiores ainda, também fuça nossas redes sociais para descobrir se há compatibilidade de patrimônio. O Ministério Público da mesma forma. Os pretendentes a namoro não fogem à regra. E por aí vai...
Parece que há mesmo um Grande Irmão, ainda que mais ao estilo Matrix. Só não descobri ainda se o Selvagem tinha razão...

sexta-feira, 3 de março de 2017

Notícias falsas na internet na pauta do Congresso Nacional.

Na retomada de seus trabalhos nesta segunda-feira (6), o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional aprovou a realização de seminário para debater a proliferação de notícias falsas no ambiente digital. O debate, proposto pelo conselheiro e representante das empresas de rádio, Walter Ceneviva, será realizado em abril, com a participação de representantes da sociedade civil e de especialistas do setor.
Na avaliação de Davi Emerich, representante da sociedade civil no conselho, o debate é oportuno. Ele lembrou que, no passado, a mídia tradicional fazia uma intermediação, filtrando as notícias falsas, o que não ocorre com rigor no ambiente virtual dos dias de hoje.
“Estamos sem intermediação nenhuma. Há o cenário de mídias sociais e de internet sem censura. Em vez de isso se transformar em um instrumento libertário, está criando pensamentos reacionários, protofascistas”, disse Emerich, que defendeu a criação de um novo tipo de militância política em busca de verdade dentro do espaço virtual.”
A internet é algo relativamente novo e ainda temos muito a aprender no que diz respeito a como lidar, trabalhar, usar, interpretar. A discussão que vem por aí é a linha entre censura e liberdade de expressão. O que não se pode negar, porém, é a violência que se pratica diariamente por esse meio contra a honra e imagem das pessoas, o que, muitas vezes, gera danos de altíssima importância e, eventualmente, até irreversíveis. Para o isso o Judiciário deverá sempre estar atento.
Na foto, integrantes do Conselho de Comunicação Social se reuniram nesta segunda-feira para discutir assuntos relacionados ao setor – Gilmar Félix/Câmara dos Deputados.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Mensagem ofensiva no Facebook permite demissão por justa causa


O Tribunal Superior do Trabalho (TST) vem decidindo pela legalidade da demissão por justa causa nos casos em que o empregado se utiliza do Facebook para publicar mensagens ofensivas tanto contra a empresa como contra clientes. A título de exemplo, no recurso AIRR-1649-53.2012.5.03.0007, julgado em dezembro/2016, o TST não reverteu a justa causa pretendida pelo empregado, destacando que o Tribunal Regional, considerando as circunstâncias fático-probatórias, concluiu que não houve ilegalidade na aplicação da pena de dispensa por justa causa, pois “… a reclamante, utilizando-se da rede social denominada FACEBOOK, cometeu atos contrários à ética que se espera de todo empregado.” e que “… a autora postou em seu perfil no FACEBOOK mensagens ofensivas, utilizando palavras de baixo calão, denegrindo a imagem da reclamada, e não se limitando aí, mas ofendendo até mesmo os clientes da drogaria.”
Desta forma, resta claro que a responsabilidade e o respeito entre empregador e empregado ultrapassam o local e o horário de trabalho, especialmente na nova realidade de tecnologia, internet e superexposição nas redes sociais, devendo ambos os lados manter a lealdade esperada neste tipo de relação contratual.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Comentários no WhatsApp geram danos morais.

Em época de carnaval recomenda-se precauções em vários aspectos. Com a evolução da tecnologia, mais algumas devem ser acrescentadas à lista. Cuidados com os exageros nas festas do Rei Momo inclusive nos meios virtuais ou digitais, pois podem custar caro.
Nessa época em que algumas pessoas ainda pensam, infelizmente, que tudo é permitido, em especial na internet, o respeito deve (ou deveria) prevalecer. Comentários difamatórios ou injuriosos, ainda que em redes sociais ou de comunicação, podem gerar consequências criminais e civis (indenizatórias). Como exemplo recente, veja-se a decisão da 5a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que manteve a sentença que condenou o autor de comentários denegrindo mãe e filha (na época dos fatos com 14 anos) em um grupo de amigos do WhatsApp ao pagamento de indenização por danos morais.
Segundo os autos, as partes estavam em uma festa onde foram tiradas várias fotos. O réu era colega de faculdade da vítima mãe e mandou várias dessas fotos para um grupo de WhatsApp chamado Cretinus Club, em que participavam 40 homens, com mensagens de conotação sexual e palavras de baixo calão, inclusive dizendo que mantinha um relacionamento com a mãe e que a filha também estaria interessada nele. Um dos participantes do grupo informou as vítimas do ocorrido, que registraram boletim de ocorrência. A defesa do réu foi no sentido de que não tinha sido ele que havia enviado as mensagens, o que, segundo a Justiça, não restou devidamente comprovado.
Ou seja, costumeiramente se vê ou se sabe de situações como estas em determinados grupos de WhatsApp, e muitas pessoas pensam que não há responsabilidades por se tratar de um “mundo virtual”. As consequências, porém, são bem reais e podem ser bastante drásticas. Cresce, inclusive, a tese de que também respondem pelos danos causados aqueles que compartilham ou replicam tais imagens, vídeos ou mensagens.
Nesse carnaval, então, se beber use o celular apenas para chamar o táxi.
Mais informações sobre a decisão acima comentada, clique aqui.
www.rlb.adv

Mensagens difamatórias geram dever de indenizar.

Liberdade de expressão e seus limites têm sido objeto de muita discussão no meio jurídico desde sempre. Com o advento da internet e, especialmente, das redes sociais e dos aplicativos de comunicação instantânea, esse assunto vem ganhando ainda mais importância tanto por conta do alcance do que é dito ou escrito como pela sensação de alguns, ainda, de que internet é terra de ninguém.
Em mais um caso julgado pelos tribunais, a 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve sentença que condenou rapaz a indenizar mulher em razão de mensagens difamatórias disponibilizadas em aplicativo de mensagens para celular no valor de  R$ 10 mil a título de danos morais. Segundo os autos, o réu difamou a autora por meio de mensagens em um grupo do qual ambos faziam parte no aplicativo WhatsApp, proferindo diversos comentários negativos alegando um suposto relacionamento íntimo com a vítima.
Para o desembargador Silvério da Silva, a conduta do réu extrapolou o dever de urbanidade e respeito à intimidade, caracterizando o reparo indenizatório. “As alegações da autora, comprovadas pelas impressões das telas de mensagens, e as afirmações de testemunhas demonstram conduta do réu que trouxe danos que fogem ao mero dissabor e simples chateação cotidiana, merecendo reparação de cunho moral.”

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Admirável mundo novo.

Nesse fim de ano me redimi de um dos meus pecados (por inércia) literários: li Admirável mundo
novo, de Aldous Huxley, que estava na prateleira da minha estante já há alguns bons anos (sim, sim, sei, vergonha...). Eu diria que esse livro é de leitura obrigatória em conjunto com 1984, de George Orwell. Não sei dizer qual seria a ordem mais indicada de leitura (1984 é de 1948 e Admirável de 1932). Embora circunstancialmente tenha lido 1984 antes, parece-me que, para quem ainda não leu nenhum dos dois, começar por Admirável pode ser mais interessante. De qualquer modo, a meu ver, se completam.

O pior de tudo isso é que sinto que hoje estamos - a humanidade - em algum espectro entre o Admirável mundo novo e 1984. Ou seja, entre as maravilhas das facilidades e benesses da tecnologia e sob os olhos onipresentes do grande irmão (que, no nosso caso é uma mistura de governos do mundo todo e Google/Microsoft/e afins).

Do 1984 falei, há mais ou menos um ano, algumas coisas aqui, aqui e aqui.

Do Admirável mundo novo falo um pouco hoje. Começo pelo prefácio (apenas o primeiro parágrafo de 14 páginas) escrito pelo próprio autor para a edição de 1946:

"Todos os moralistas estão de acordo em que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor da próxima vez. Não deve, de modo algum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo." 

O livro começa com um soco no estômago. Demorei um pouco para entender, me situar. E Aldous escreve bem. Não tem como não ficar curioso de como as coisas vão se desenrolar. Principalmente se formos identificando as "previsões" dele com nosso mundo real atual. A curiosidade é sobre nosso próprio destino mesmo.

Lá pelas tantas:

"Porque o nosso mundo não é o mesmo mundo de Otelo. Não se pode fazer um calhambeque sem aço, e não se pode fazer uma tragédia sem instabilidade social. O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não pode ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não tem medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não tem esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionados de tal modo que praticamente não podem deixar de se comportar como devem. E, se por acaso alguma coisa andar mal, há o soma."

Não continuo para não dar spoiler para quem ainda não sabe o enredo. É ou não um discurso sedutor? É ou não um discurso conhecido, embora com outras referências.

Para finalizar:

"A felicidade nunca é grandiosa."

domingo, 15 de janeiro de 2017

Delacroix escapa das chamas.

Meus caros raros leitores, sobre o livro que consta na postagem abaixo:

http://bacafa.blogspot.com.br/2009/07/delacroix-escapa-das-chamas.html

Emprestei para alguém e não lembro. Se alguém souber ou se estiver com alguém, e puder me avisar, eu agradeço. Muito alguém num texto tão pequeno...

sábado, 14 de janeiro de 2017

Férias e segurança digital.

As férias acabaram para uns e estão acabando para outros, mas os cuidados abaixo sugeridos ainda valem, independentemente de datas. Fica a dica.

Publicado originalmente no www.rlb.adv.br.

As férias de final de ano estão chegando, comemorações, diversão, descontração. Provavelmente descanso e festividades merecidos para a maioria. Entretanto, nem todos param. E se antes a preocupação era com a casa, e a solução era pedir para o vizinho ficar de olho ou a polícia fazer a ronda na rua, hoje em dia o inimigo é praticamente invisível…
A tecnologia trouxe – e continuará trazendo – muitas comodidades. E muitas preocupações. E muitos problemas para os mais incautos. Por isso algumas recomendações simples sobre os mais simples dos problemas nessa área.
Para quem já ouviu falar da internet das coisas (IoT), não é novidade do quanto equipamentos eletrônicos podem ser os suspeitos entre nós. Qualquer dispositivo eletrônico ligado à grande rede pode ser um canal aberto para os bandidos tecnológicos. Para se ter ideia da vulnerabilidade, dois casos (cujo mérito, por conta do espaço, serão abordados nos próximos textos): (1) existem sites que divulgam imagens de câmeras espalhadas pelo mundo inteiro escolhidas aleatoriamente. Sem autorização! Do quintal da casa à cozinha do restaurante. (2) No começo do ano um cracker filmou, através de uma smartTV um casal em cenas íntimas quentes.
E isso é só a ponta do iceberg.
Nossos smartphones têm muito mais informações a nosso respeito do que podemos supor. Então ficam duas dicas simples: (1) não utilizar programas com acessos a informações sensíveis (e-mails, apps de bancos, acessos a arquivos de trabalho) em redes abertas e (2) desligar os geolocalizadores dos apps de suas redes sociais. São dois motivos principais: o marginal pode saber onde você está ou não está (o que pode ser ainda mais interessante para uma mente criminosa) ou você pode ser vítima de um stalker (perseguidor) – e esse recado serve principalmente para adolescentes e mulheres. Se sua rede social indica para amizade alguém que você não conhece, provavelmente você esteve recentemente no mesmo ambiente que essa pessoa.
Por fim, aquela dica que todos já conhecem: não fique postando fotos em tempo real de todos os lugares que você está e nem de todos os bens (carros, casas, brinquedos caros novos) que você tem.
Privacidade, liberdade e segurança têm seu preço.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Calvin e a música.

Porque hoje é sexta-feira, 13 e porque Calvin é Calvin!!


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Reflexões sobre a liberação das drogas;

Muito se fala e muito se contesta sobre a liberação das drogas. Poucos, afora os especialistas em
saúde e segurança, param para efetivamente tratar ou pensar o assunto com a seriedade e a imparcialidade merecidas.

No texto a que remeto pelo link abaixo, de Alberto Benegas Lynch, visto no site Instituto Ordem Livre, algumas reflexões sobre o tema. Concordo com algumas, discordo de outras. De todo modo, é indispensável e urgente que toda a sociedade acorde para essa discussão.

http://ordemlivre.org/posts/32-reflexoes-pela-liberacao-das-drogas--33

Contra ou a favor, os argumentos e sustentações não podem ser falaciosos.

O texto me lembrou o depoimento de um ex-policial dos EUA defensor da liberação da venda de drogas via internet (vi num documentário sobre a dark web). Resumidamente, ele aponta que com a venda nesses moldes a violência cai drasticamente. Em algum ponto das reflexões do link acima esses entendimentos convergem.

O fato é que o que foi feito até agora para acabar com o tráfico não funcionou. Nem aqui, nem nos EUA, nem na Europa, nem em lugar nenhum do mundo. É hora de repensar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Mais dO homem duplicado.

Para finalizar sobre o livro O homem duplicado, e complementando as frases de ontem, mais

algumas. Dessa vez, sobre dúvidas, angústias e covardias (ou qualquer outra coisa que o leitor entender melhor):

"Aquilo a que certa literatura preguiçosa chamou durante muito tempo de silêncio eloquente não existe, os silêncios eloquentes são apenas palavras que ficaram atravessadas na garganta, palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote".

"é impossível não ter inimigos, que os inimigos não nascem da nossa vontade de os ter, mas do irresistível desejo que têm eles de nos terem a nós".

"As pessoas podem mudar de uma hora para outra continuando a ser as mesmas".

"o diabo não faz planos, aliás, se os homens fossem bons, ele nem existiria".




E a frase que inicia o filme e que me faz pensar que se aplica a tudo:

"O caos é uma ordem por decifrar".

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Ainda sobre O homem duplicado - e a incompetência humana.

Alguns trechos do livro (O homem duplicado, de José Saramago) que especialmente servem para pensar... (com a grafia e pontuação originais).

Sobre a incompetência humana:

"Tanto é o que precisamos de lançar culpas a algo distante quando o que nos faltou foi a coragem de encarar o que estava na nossa frente".

"Não se pode exigir a toda a gente que seja sensata, Por isso o mundo está como está,".

"Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução".

"O melhor caminho para uma desculpabilização universal é chegar à conclusão de que, porque toda a gente tem culpas, ninguém é culpado".

"O mundo não tem mais problemas que os problemas das pessoas".

"Não se deixe enganar, o senso comum é demasiado comum para ser realmente senso, no fundo não passa de um capítulo da estatística, e o mais vulgarizado de todos".

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O homem duplicado e o ano novo.

Nada como começar o ano literariamente bem acompanhado. E José Saramago é um excelente companheiro. Há cinco anos comecei a ler O homem duplicado e por conta daquelas circunstâncias que não se explicam e livros lidos ao mesmo tempo acabei não terminando, embora a leitura estivesse adiantada. Pois bem, acabou. Ou acabei.

Esse (como sói ocorrer com todos os textos de Saramago) é o típico livro que não se encerra com a última linha. O que eu faria se, do nada, encontrasse uma pessoa exatamente igual a mim? Não um gêmeo perdido, mas um igual, um absolutamente igual, inclusive nas cicatrizes? O que você faria?

Em tempos de superexposição na internet e avalanches de selfies, onde nossa identidade volta e meia se perde dada a necessidade generalizada de sermos todos bonitos e felizes, e onde queremos ser diferentes sendo iguais a todo mundo, essa hipótese se torna ainda mais enigmática.

Entretanto, cometi um pecado. Vi o filme O homem duplicado já em seguida (com Jake Gyllenhall, e direção do atualmente festejado Denis Villeneuve). A película não é ruim, não mesmo. Mas falta a intensidade das personagens da caneta de Saramago - o que é perfeitamente natural. A angústia do filme não chega aos pés da expectativa das páginas.

Se quiser ver um bom filme (não um filme booommm), é uma sugestão - só não me pergunte da aranha. Se quiser ler um livro denso, melhor que o filme, recomendo. Se optar pelos dois, leia o livro antes.

Ao longo da semana repassarei alguns trechos do livro. Sem spoiler.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Polêmica sobre a foto da menina nua na Guerra do Vietnã me lembrou o texto "Éramos pedófilos e não sabíamos?"

Parece-me indiscutível que entramos na era da loucura, da neurose. Um pouco pelas evidências das crueldades humanas (que sempre existiram, talvez até piores do que são hoje, mas que nunca tiveram a divulgação massiva e instantânea como atualmente), um pouco por conta da síndrome do "politicamente correto".

Agora a polêmica é sobre a famosa foto da menina nua na Guerra do Vietnã fugindo de um bombardeio americano com napalm. Crua, violenta e triste por si só. O Facebook resolveu tirá-la do ar. Voltou atrás. As razões podem ser lidas aqui.



Lendo os argumentos, lembrei de um texto sobre pedofilia que escrevi em fevereiro de 2011. Lá se vão mais de cinco anos. "Éramos todos pedófilos e não sabíamos?". Para ler, basta clicar no título aí do lado.

Não tenho certeza se a humanidade está evoluindo ou involuindo. Acredito muito fortemente na primeira opção, apesar de alguns desarranjos aqui e ali. O futuro nos dirá.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Hoje é dia de rock, bebê.

AC/DC - Thunderstruck.

Em versões, hehe!!!



E o original:


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Telhado de vidro.



                   Um dos textos que mais me fez refletir na minha vida adulta é de um jaraguaense. “A falácia do telhado de vidro”, do advogado e professor Darwinn Harnack, de 2010. Lembrei dele no meio desta fuzarca que virou nossa política e as discussões de botequim. Cabe bem aqui, em dois aspectos, a meu ver.

                   Primeiro: “Todo o ser humano comete erros e é falível. Disso não restam quaisquer dúvidas. Porém, o escudo hoje tão utilizado do “não jogue pedras...” tem fundamentado uma atitude não recomendável de passividade perante os fatos da vida. Se todo o ser humano erra, isso não é motivo para deixar de se defender um padrão de conduta correto e voltado para o bem. Quem erra deve aceitar a crítica devida, mas não perde, por isso, o direito de também cobrar a correção da conduta alheia. Fosse assim, ninguém poderia criticar mais nada. Essa ideia é falaciosa e induz à passividade que tanto interessa a quem assume uma posição de comando, seja em uma instituição ou mesmo no Estado. Em outras palavras, não é porque alguém cometeu um ou mais deslizes na vida que está fora da órbita dos chamados “homens de bem”, que podem criticar e cobrar os demais. Todos têm esse direito e o “homem de bem” de hoje, pode ser o errado amanhã.”

                   De outro norte, o próprio contrapõe: “É bem verdade que o ataque irracional contra alguém que cometeu um erro na vida, constitui atitude leviana e própria de quem não calça mentalmente as sandálias do próximo antes de se pronunciar”. O professor tem razão nas duas colocações. Passividade a obscuros interesses alimenta. Raiva a nenhum lugar leva.

                   Está-se vendo, porém, a pessoalização nas discussões dos problemas que assolam nosso país. Poucos têm trazido soluções, muitos têm descarregado, com evidente ira, ataques irracionais claramente papagaiando o “que ouviram dizer”, às vezes sem a mínima noção do que repetem.

                   O momento é grave, o debate é necessário, o conhecimento de causa é fundamental e a reflexão é essencial. Independentemente de como terminar esta triste página da nossa história.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O código de honra.



                   Vivemos uma fase ímpar no Brasil. É, não tenho dúvidas, um momento de libertação. Independentemente do lado que se esteja, estamos passando por um processo de depuração política. Caindo ou não a Presidente da República ou o Presidente da Câmara, ou mesmo o do Senado, não se enganem os sobreviventes de que estarão a salvo do crivo popular. Uma nova era chegou. E creio que será diferente da apatia que se deu pós-1992.

                   Lendo “O código de honra: como ocorrem as revoluções morais”, do filósofo contemporâneo Kwane Anthony Appiah, no capítulo que trata do fim da escravidão atlântica, há lições que muito bem se aplicam a nossa realidade, embora discutidas nos anos 1820 pelos britânicos: “a informação às classes mais humildes sobre o tema em questão não é trabalho perdido, ao contrário de grande parte do que se dedica a seus superiores em cultura e posição”. Embora o próprio autor reconheça certa polêmica nesta afirmação, verificava-se que as classes médias e altas “tinham consciência dos horrores da escravidão e mesmo assim não faziam nada”. Pergunto-me se se aplica essa assertiva ao Brasil em relação aos horrores da corrupção, em tempos modernos? E estendo este questionamento às “pequenas corrupções” do dia-a-dia, como estacionar indevidamente na vaga de idoso, não devolver o troco a maior dado errado, jogar lixo na rua, furar fila, comprar cd pirata e por aí afora.

                   Continuando o raciocínio comparativo, ainda segundo o livro, nos anos 1830, na Inglaterra, houve manifestações que levavam cerca de 200 mil pessoas para comícios sobre reformas políticas, sendo que “o Parlamento se acostumou com a nova ideia de que devia responder aos julgamentos da nação – e não os direcionar”. O autor complementa o pensamento da época com um comentário de Disraeli, talvez, digo eu, com uma pitada de preconceito: “uma aristocracia esclarecida, que se colocou à frente de um movimento que não se originou dela, deveria ter corrigido, e não sancionado, os erros virtuosos de uma comunidade bem-intencionada, mas de mentalidade estreita”.

                   Já se vão quase 200 anos e a história parece, em sua essência, se repetir, em lugar e por motivos diferentes. Precisamos refletir.